O Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS) relançou, durante a Feicon 2025, a “Ferramenta 6 Passos – Critérios para Responsabilidade Social e Ambiental na Seleção de Fornecedores”. De acesso gratuito, a ferramenta tem sido referência para projetistas, especificadores, construtoras e gestores públicos no apoio ao processo de seleção de fornecedores de produtos de construção, alinhando-os com as melhores práticas de sustentabilidade e, especialmente, garantindo a sua conformidade legal e técnica desde o seu lançamento, em 2011.
A nova versão, lançada no evento “Transparência e Sustentabilidade na Construção Civil”, realizado no dia 11 de abril, conta com um sistema digital atualizado que auxilia a consulta e validação de informações sobre fornecedores, abordando critérios como conformidade legal, técnica, impactos sociais e ambientais. Ao final, pode obter um relatório consolidado para apoiar suas decisões.
“Muitas empresas do setor da construção estão falando de sustentabilidade e de descarbonização enquanto ainda nem resolveram questões básicas de formalidade e de desempenho técnico”, alertou Clarice Degani, diretora executiva do CBCS, na abertura do evento. Os outros pontos de atenção, segundo ela, são a importância do Escopo 3 do GHG Protocol, que se refere às emissões indiretas de gases do efeito estufa que ocorrem na cadeia de valor das empresas, e a necessidade de esclarecimentos sobre greenwashing – estratégia de marketing enganosa sobre as práticas ambientais das empresas.
“Os departamentos de compras e suprimentos e os especificadores de materiais precisam estar atentos a isso. A Ferramenta 6 Passos é ótima para que possam percorrer essas verificações durante o processo de homologação e seleção de seus fornecedores”, enfatizou Clarice. Ela oferece um roteiro simples e acessível, alinhando a conformidade técnica e regulatória à transparência nas relações comerciais e às novas demandas do mercado, como a descarbonização do setor da construção.
A Ferramenta 6 Passos está disponível em cbcs6passos.org.br.

Da conformidade fiscal aos princípios ESG
Durante o evento de relançamento da Ferramenta 6 Passos, especialistas apresentaram reflexões relevantes sobre os desafios da sustentabilidade no setor, o papel de cada agente do ecossistema da construção civil e sobre como a ferramenta contribui para a transparência e a sustentabilidade no setor, considerando quatro passos eliminatórios – conformidade fiscal (Passo 1), licença ambiental (Passo 2), conformidade legal trabalhista (Passo 3), conformidade técnica (Passo 4) – e dois classificatórios – práticas ESG (Passo 5) e Comunicação e marketing de sustentabilidade (Passo 6).
Na palestra “A importância da cadeia de suprimentos na sustentabilidade do ambiente construído”, o professor Orestes Marraccini Gonçalves destacou que há fabricantes que seguem normas e desenvolvem programas técnicos, mas que é fundamental que haja clientes que exijam qualidade e desempenho. “Tem também o fabricante não conforme, aquele que diminuiu a conformidade e pratica a concorrência desleal. Ele diz que segue as normas e até faz propaganda dizendo isso, mas não as cumpre. Esse precisa ser pressionado de alguma forma. Ou se ajusta ou sai do mercado”, frisou.Orestes é engenheiro e doutor em Engenharia Civil pela USP, membro do CTECH – Comitê Nacional de Desenvolvimento Tecnológico da Habitação do Ministério das Cidades e sócio-fundador da TESIS – Tecnologia e Qualidade de Sistema em Engenharia. É Conselheiro, Curador e Diretor do CBCS.
O papel dos especificadores neste processo foi destacado pela engenheira civil Vera Fernandes Hachich, na palestra “Conformidade técnica e ambiental: como assegurar qualidade, desempenho e sustentabilidade dos materiais de construção?”. “A ideia da Ferramenta 6 Passos é fazer com que o básico seja cumprido. E o primeiro passo é a conformidade fiscal. Na maior cidade da América do Sul (São Paulo), ainda são feitas compras de materiais de construção que são extraídos ilegalmente”, alertou Vera, mestre e doutora pela Escola Politécnica da USP, sócia da TESIS, Conselheira do CBCS e sua representante no Grupo Técnico de Sustentabilidade do PBQP-H – Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat, da Secretaria Nacional da Habitação – Ministério das Cidades. Dentre esses materiais, ela cita, como exemplo, a areia, a brita e a madeira. “São tantos produtos que se fecham os olhos, sequer questionando como é feito o descarte”, complementa, reforçando a urgência de se incorporar essa reflexão no processo de compra.
A pegada de carbono das empresas deve ser uma variável decisiva na seleção de fornecedores na construção civil. A afirmação foi feita pela engenheira civil Carolina Sonvezzo, mestre em Construção Sustentável, na palestra “Pegada de carbono da indústria de materiais de construção: Sidac e as Declarações de Desempenho Ambiental de Produto (dDAP)”. E esse é um dos benefícios da Ferramenta 6 Passos, pois integra, em seu roteiro de verificações, a consulta ao Sistema de Informação do Desempenho Ambiental da Construção (Sidac), plataforma digital gratuita do Ministério de Minas e Energia (MME), desenvolvida com a colaboração do CBCS. A ferramenta permite calcular os indicadores de demanda de energia primária, emissão de CO2 e, para os produtos à base de biomassa, o estoque temporário de carbono biogênico, do berço ao portão da fábrica. “O Sidac calcula a ‘pegada ambiental’ de produtos e sistemas construtivos, possibilitando incorporar a variável ambiental nas decisões do dia a dia. É fundamental conhecer a pegada ambiental do produto para poder definir ações efetivas de mitigar os impactos ambientais da construção”, afirmou Carolina, que também faz parte das equipes das Jornadas Setoriais de Baixo Carbono do CBCS.
Na palestra “Os desafios dos princípios ESG no setor da construção civil. Comunicação Sustentável ou Greenwashing”, Laura Marcellini, diretora técnica da Abramat e Conselheira do CBCS, enfatizou a importância dos passos 5 e 6 da ferramenta. “Quando falamos em práticas ESG, normalmente olhamos para o que a empresa divulga em relação aos três eixos – ambiental, social e governança. Com a plataforma, vamos conseguir analisar de uma maneira mais abrangente essas informações, buscando saber se as empresas estão realmente fazendo o que estão divulgando”, pontuou Laura, engenheira Civil pela Escola Politécnica da USP com especialização em Administração de Empresas pela FIA, pós-graduanda em ESG e Gestão da Sustentabilidade na FIA.
Entre os critérios classificatórios, Laura destaca a observação dos impactos gerados pela empresa, do seu gerenciamento de riscos, da divulgação da pegada de carbono e sobre como a empresa se posiciona em relação a uma eventual poluição, geração de resíduos e conservação da biodiversidade. “Em relação à sociedade, a reputação que ela constrói em relação às pessoas e instituições e nas comunidades em que ela faz negócios. (…) Como é que ela trata condições de trabalho, remuneração, benefícios, oportunidade de desenvolvimento, diversidade e inclusão”, complementa. Quanto à governança, Laura exemplifica sugerindo reflexões sobre como a empresa evita condutas antiéticas, combate a corrupção dentro da sua estrutura e se relaciona com os seus acionistas. A Ferramenta 6 Passos traz orientações para essas análises, contribuindo para o combate ao Greenwashing. Segundo ela, questionar os fornecedores é a primeira atitude, especialmente sobre termos vagos, selos aplicados nas embalagens, certificações divulgadas e sobre títulos adotados como ‘ecofriendly’. “Por que você é ‘verde’?”, “Quais são os dados concretos?”, “Qual a comprovação?”. Esses são questionamentos que Laura recomenda, assim como a análise da ecoeficiência global da empresa e não apenas do produto que ela fornece.
Sobre o CBCS
É Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), criada em 2007, como resultado da articulação entre lideranças empresariais, pesquisadores e profissionais do setor. Seu objetivo é contribuir para o desenvolvimento sustentável da construção civil, por meio da produção, organização e disseminação de conhecimento, propondo políticas públicas e apoiando iniciativas do setor privado. O CBCS pautou os conceitos de sustentabilidade para o setor e os aplicou em simpósios, revisões de normas, projetos, publicações, programas e ferramentas, colocando-os em prática.
Fotos: Lienio Medeiros | CBCS