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Notícias do Setor de Construção

Sustentabilidade na Construção

01/09/2007


As atuais práticas de produção adotadas pelas empresas da construção civil necessitam de ajustes imediatos para que o setor possa contribuir adequadamente para o desenvolvimento sustentável do país. São comuns, ainda, processos artesanais nas frentes de trabalho, uso de matérias-primas sem manejo sustentável e a aplicação de produtos industrializados desconsiderando os aspectos de conservação de água, energia e a necessária redução de resíduos e desperdícios.

A pressão social por uma melhor qualidade de vida das populações nas cidades e no campo e a grande apreensão internacional em relação aos impactos ambientais decorrentes das atividades humanas, estimulam os agentes setoriais a repensarem seus procedimentos e a buscarem alternativas que propiciem a continuidade de suas atividades em um ambiente de desenvolvimento sustentável e de preservação do ambiente natural e sua biodiversidade.

É nesse contexto que algumas das mais importantes lideranças da construção brasileira unem-se para a criação deste Conselho Brasileiro da Construção Sustentável - o CBCS, com a decisão de integrar, definitivamente, a construção brasileira nos preceitos de responsabilidade social, proteção ambiental e desenvolvimento econômico sustentável.

O CBCS tem por objetivo promover a melhoria dos padrões de produção e a difusão dos conceitos de sustentabilidade entre os agentes setoriais, de modo a viabilizar a redução de impactos ambientais e sociais decorrentes das suas atividades. O CBCS pretende reunir referências técnicas, compilar tecnologias e estimular a colaboração permanente entre universidades, institutos de pesquisa, formadores de opinião, empresas,entidades empresariais e da sociedade civil, em ações de âmbito nacional e internacional.

 

Impactos da Construção

 
A sustentabilidade do Brasil, mesmo a ambiental, não depende somente da preservação da floresta. A economia é urbana. A maioria da população vive em cidades, um dos produtos da cadeia da construção civil.

 
As práticas atuais de produção adotadas pela cadeia produtiva da construção civil têm importantes impactos não apenas no desempenho econômico do País, mas também na biodiversidade, desenvolvimento social e na qualidade de vida da população.

Impactos da Construção

 
Com a participação de cerca de 15% do PIB, o setor possui impacto ambiental e social compatíveis com seu tamanho.

Os impactos ambientais são importantes e variados:

  • A construção e a manutenção da infra-estrutura do país consomem até 75% dos recursos naturais extraídos, sendo a cadeia produtiva do setor a maior consumidora destes recursos da economia.
  • A quantidade de resíduos de construção e demolição é estimada em torno de 450 kg/hab.ano ou cerca de 80 milhões de toneladas por ano, impactando o ambiente urbano e as finanças municipais. A este total devem ser somados os outros resíduos industriais formados pela da cadeia.
  • Os canteiros de obras são geradoras de poeira e ruído e causam erosões que prejudicam os sistemas de drenagem.
  • A construção causa a diminuição da permeabilidade do solo, mudando o regime de drenagem, causando enchentes e reduzindo as reservas de água subterrânea.
  • A utilização de madeira extraída ilegalmente, além de comprometer a sustentabilidade das florestas representa séria ameaça ao equilíbrio ecossistêmico.
  • A cadeia produtiva da construção contribui para a poluição, inclusive na liberação de gases do efeito estufa, como CO2 durante a queima de combustíveis fósseis e a descarbonatação de calcário e de compostos orgânicos voláteis, que afetam também os usuários dos edifícios.
  • A preocupação com a contaminação ambiental pela lixiviação de biocidas e metais pesados de alguns materiais vem crescendo;
  • A operação de edifícios no Brasil é responsável por cerca de 18% do consumo total de energia do país e por cerca de 50% do consumo de energia elétrica;
  • Os edifícios brasileiros gastam 21% da água consumida no país, sendo boa parte desperdiçada.

A construção, também, precisa se adequar para as conseqüências da mudança do clima, pois as edificações e as cidades projetadas e construídas hoje estarão expostas a ventos mais fortes (já tivemos o primeiro furacão no Brasil!) e chuvas mais intensas e com maior freqüência. Adicionalmente, o aumento da temperatura média afetará o dimensionamento de sistemas de refrigeração e a eficiência energética, além de influir na durabilidade da própria construção.

Do ponto de vista da sustentabilidade social, o setor é o maior gerador de empregos diretos e indiretos, no país. No entanto, a informalidade abrange não somente a auto‑construção da habitação dos pobres, mas também as cadeias de materiais de construção, projeto e desenvolvimento urbano. Boa parte dos operários do setor se encontra na linha da pobreza. A baixa produtividade em alguns setores da indústria de materiais e, particularmente, nas atividades de construção e manutenção é um fator importante para os baixos salários. Por sua vez, esta baixa remuneração diminui a atratividade de novos talentos, gerando um ciclo vicioso negativo aos processos de desenvolvimento nacional.

Finalmente, é preciso reconhecer que um Brasil mais sustentável do ponto de vista social vai depender de uma significativa expansão do ambiente construído. Esta expansão, no entanto, não pode ser realizada com os atuais paradigmas de trabalho, pois não seria ambiental e economicamente sustentável.

Principais Desafios

O aumento da sustentabilidade da cadeia produtiva da construção civil exige profundas alterações na cultura e significativas inovações tecnológicas. Para tanto, alguns desafios precisam ser enfrentados a partir do compartilhamento e busca de soluções entre os principais representantes do setor, como:

 
Informalidade do setor

A informalidade no setor da construção civil é um grande desafio à sustentabilidade social e econômica do país, encampando o desrespeito à legislação urbana, ambiental e trabalhista e a sonegação de impostos. Estas práticas atingem uma parcela de cada elo da cadeia da construção, da extração da matéria prima, passando pela produção de materiais, comercialização de terras, execução de projetos, construção, manutenção e transporte e destinação de resíduos. Ela degrada a qualidade de vida, restringe a capacidade de investimento do Estado em um ambiente construído de qualidade, eleva as alíquotas de impostos reduzindo drasticamente o mercado para as empresas e profissionais éticos e cumpridores de suas obrigações legais. No entanto, a maioria dos consumidores e profissionais da área não relaciona a sustentabilidade com necessidade de combater a informalidade.

 
Baixa percepção da influência da construção na sustentabilidade

Apesar do esforço de muitas empresas e associações brasileiras, provavelmente, boa parte do público consumidor, mesmo aquele preocupado com os desafios da preservação ambiental, ainda não está consciente dos impactos da construção civil nesta realidade. A falta deste entendimento no mercado brasileiro tende a inibir o lançamento de novas construções de perfil mais sustentável, bem como a realização de reformas e modernização de edifícios que promovam a melhoria da qualidade funcional e estrutural do estoque de construções existentes.

 
Formação de recursos humanos

A implementação de uma solução mais sustentável depende não apenas de produtos e processos, mas, também de recursos humanos motivados e tecnicamente capacitados nos diferentes aspectos da construção sustentável. Os conteúdos dos cursos de engenharia civil e arquitetura não contemplam estes problemas. Falta ao país uma cultura de atualização permanentemente dos profissionais do mercado.

A conscientização e melhoria da formação dos operários, tanto da indústria quanto dos canteiros é também uma necessidade.

Carência de ferramentas de projeto, produção e operação

A implementação de soluções mais sustentáveis vai depender do desenvolvimento ferramentas práticas como, softwares para projetos; manuais de gestão de produção, para o canteiro de obras e para diferentes materiais e componentes; manuais para as fases de uso e operação dos empreendimentos; materiais específicos para a construção autogerida, entre outros. Desenvolver e implementar este ferramental é um dos grandes desafios colocados.
 

Legislação e normalização inadequadas

A variada legislação aplicada à Construção Civil Brasileira, com destaque para os códigos de obra, não privilegia e, por vezes, limita o investimento em práticas a sustentabilidade das construções. A mesma dificuldade existe também com as normas técnicas de materiais e processos.

Por outro lado, a experiência internacional mostra que a introdução em grande escala de soluções de construção mais sustentável pode ser promovida por incentivos legais.

Inovação continuada

A cadeia da construção civil tem baixa tradição em inovação. No entanto, um novo mercado da construção civil mais eco-eficiente vai exigir o desenvolvimento contínuo de uma grande variedade de novos produtos e processos, que sejam adequados às diferentes realidades do país. Novos mercados devem ser criados e a tendência à exportação intensificada.
 

Orientação aos consumidores


Existe hoje a necessidade do desenvolvimento de um sistema de avaliação da sustentabilidade de produtos, edifícios e outras construções que sirvam de referência aos projetistas, fabricantes, gerenciadores de facilidades e consumidores que busquem por construções mais sustentáveis.

No caso de avaliação de edifício existem experiências internacionais de sucesso, como o sistema americano LEEDÓ, o inglês BREAM e os franceses HQEÒe H&E. No entanto, dadas as grandes diferenças nas agendas locais, a simples importação de um sistema estrangeiro é inadequada. Sendo assim, o desafio é desenvolver um sistema progressivo, adequado à realidade brasileira.

Além do sistema de avaliação de edifícios de diferentes usos, das fases do processo construtivo (planejamento, operação e construção), será também necessário construir metodologias para análise de produtos, tais como base de dados de análise do ciclo de vida e nas declarações ambientais dos produtos (ISO 14025).

Articulação Internacional

Finalmente, em uma época de globalização é fundamental que os representantes brasileiros participem ativamente das articulações internacionais sobre a questão da sustentabilidade na construção civil, inclusive da normalização internacional no âmbito da ISO.